top of page
Buscar

Caso Kim Noble - A pintura como recurso no Transtorno Dissociativo de Identidade

Segundo o DSM V, o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) é caracterizado pela presença de dois ou mais estados distintos de personalidade ou uma experiência de possessão, e episódios recorrentes de amnésia. O transtorno pode ser provocado por diversos fatores (biológicos, sociais, psicológicos) entre eles traumas e abusos, principalmente ocorridos durante a infância. Nesse contexto, a criação e manutenção das personalidades alternativas constituiria um mecanismo complexo de defesa, em que a personalidade biograficamente dominante negaria e reprimiria os eventos traumáticos, deles se esquecendo (amnésia), mas deixando-os cativos, no entanto, com outras personalidades. Em termos simbólicos, seria o equivalente a dizer: “isso não ocorreu comigo, mas com outra pessoa”.


Se por um lado, existem teóricos que defendem a relação do trauma com a dissociação, por outro existem teóricos que afirmam que essa relação pode não ser, de todo, confiável. Para esses teóricos os relatos de experiências traumáticas compartilhados por pacientes que apresentem sintomas indicativos de transtorno dissociativos podem resultar da ação combinada de variáveis como tendência à fantasia, confabulação, sugestionabilidade e distorções cognitivas diversas, incluindo o fenômeno das falsas memórias.

Por esse motivo o diagnóstico de TDI deve levar em consideração todas as hipóteses e avaliar todos os fatores presentes em cada caso.


O TDI é um transtorno mental de difícil diagnóstico devido à sintomatologia diversificada e à sua forte comorbidade. Para diagnosticar este distúrbio existem critérios específicos definidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2003), e registro na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID-10, 1993).

O diagnóstico geralmente é feito por um médico psiquiatra ou um psicólogo, que usará os recursos adequados para avaliar o paciente.


Enquanto não há nenhuma “cura” para o transtorno, o tratamento a longo prazo pode ser útil. O tratamento de TDI geralmente é um desafio, tanto para o profissional quanto para o paciente, em função da instabilidade e variação das múltiplas personalidades, em contrapartida essa própria instabilidade pode ser explorada como um recurso positivo, principalmente em dinâmicas de arteterapia.

O tratamento de TDI pode incluir acompanhamento psicoterapêutico e psiquiátrico e sessões de arteterapia. Investigar e tratar comorbidades como a depressão ou vício em substâncias, também é fundamental para a melhoria global.


Caso Kim Noble - Distúrbio dissociativo de identidade e Arte

A britânica Kim Noble foi diagnosticada com um quadro grave de distúrbio dissociativo de identidade. Noble convive com cerca de cem personalidades diferentes e tem mais de 20 personalidades que chegam a ter um endereço de e-mail próprio. Kim também tem uma coleção de roupas e escovas de dentes diferentes no dormitório da casa — visto que suas personalidades não compartilham itens de uso pessoal.

Aimee junto a mãe em uma de suas mostras de arte / Crédito: Divulgação/YouTube/VICE/03.04.2018

Sua filha, Aimee, sugeriu uma solução que abrigou as múltiplas personalidades da mãe de maneira solidária e a permitiu lidar com sua dissociação: a pintura. Hoje, por meio da pintura, Noble consegue lidar melhor com seus alter egos e distinguir quando cada um entra ação - uma vez que a identidade visual de suas criações também muda, conforme alternam-se as personalidades. Missi é uma personalidade infantil e costuma pintar com traços simples, evitando detalhes elaborados e pinturas uniformes, diferente de Abi, uma personalidade muito cética, perfeccionista e que realiza obras inspiradas em sentimentos como a solidão e a compreensão. Ao longo de todas as características, cada uma possui uma técnica diferente — nunca antes treinada por Kim.


Entrevista com Kim Noble / Crédito: Divulgação/YouTube/VICE/03.04.2018


Em uma autobiografia, publicada em 2009, a artista relatou que as primeiras personalidades surgiram após um violento abuso que sofreu aos três anos de idade, fato que nunca conseguiu superar.

Geralmente, os casos de desordem dissociativa de identidade não chegam ao ponto da manifestação de tantas personalidades simultâneas. Assim, o caso de Kim Noble recebe destaque pelo grau que o transtorno atingiu. O caso também ficou conhecido pelo progresso positivo alcançado através do acompanhamento clínico e uso da arte.


Na pintura Kim encontrou espaço para se comunicar, externar e trabalhar medos, traumas e anseios derivados de seu transtorno, além de descobrir formas de transformar suas limitações em combustível para (re)criar e (re)organizar sua realidade.


Algumas das pinturas de Kim confeccionadas por personalidades diversas / Crédito: Divulgação Pinterest


As obras de Kim chamaram atenção de jornais como The Guardian e BBC, que decidiram publicá-las contando sua história.

Atualmente além de ter um espaço em uma pinacoteca londrina, a artista tem como principal fonte de renda as pinturas, comercializadas pela filha Aimee e enviadas para clientes por todo o mundo — desde apreciadores da arte e da psiquiatria até celebridades e esportistas.

Mais um caso que demonstra o poder da arte como recurso terapêutico, capaz de transformar vidas e devolver autonomia à pessoas que são subjugadas pela sociedade como limitadas em sua condição física ou mental.



Referências


Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.


MARALDI, Everton de Oliveira; Transtorno Dissociativo de identidade: aspectos diagnósticos e implicacões clínicas e forenses. Rev. Fronteiras Interdisciplinares do Direito., São Paulo, v. 1, n. 2, p. 01-31, Dez. 2019. Disponível em <https://revistas.pucsp.br/index.php/fid/article/view/2>. acesso em 01 Maio 2021. https://doi.org/10.23925/2596-3333.2019v1i2a1


NEGRO JUNIOR, Paulo Jacomo; PALLADINO-NEGRO, Paula; LOUZA, Mario Rodrigues. Dissociação e transtornos dissociativos: modelos teóricos. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 21, n. 4, p. 239-248, Dec. 1999 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000400014&lng=en&nrm=iso>. acesso em 01 Maio 2021. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000400014.


Artista de múltiplas personalidades faz arte em múltiplos estilos. BBC News. 2011. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/10/111014_galeria_kimnoble_pai>. acesso em 01 maio 2021.


FERRARI, Wallacy. Uma escova de dentes para cada: Kim Noble, a mulher que tinha 100 personalidades. Aventuras na História. 2020. Disponível em <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/uma-escova-de-dentes-para-cada-kim-noble-mulher-que-tinha-100-personalidades.phtml>. acesso em 01 maio 2021


 
 
 

Comments


CONTATO

Karine Padilha CRP 12/22186

(48) 998603008 

contato@psikarinepadilha.com.br

LOCALIZAÇÃO

SEGURANÇA

Consultório de Psicologia Karine Padilha

CNPJ 46.697.573/0001-17

R. Lauro Linhares, 2010 - Sala 409A

Trindade, Florianópolis - SC, 88036-002

Seg - Sex 14h as 20h

Ambiente protegido pela 

Criptografia SSL 256-Bit

PAGAMENTO

© Karine Padilha 2022

bottom of page